Maior colecção autocolantes políticos portugueses é espanhola

06/08/2007

Uma das mais completas colecções de autocolantes políticos portugueses, mais de 30 mil exemplares, pertence a um espanhol, Vicente Riego, cujo nome surge no Livro Guinness dos Recordes como proprietário da maior recolha do mundo nesta especialidade.
Riego reivindica mesmo possuir a maior e melhor colecção de autocolantes políticos portugueses, alguns dos quais remontam à campanha presidencial de Humberto Delgado, enquanto outro coleccionador português, Jorge Silva, afirma desconhecer quantos exemplares tem na sua colecção, que disponibilizou no seu blogue (tocolante.blogspot.com).
Residente em Madrid, Espanha, Vicente Clemente Riego, 47 anos, começou a coleccionar autocolantes políticos em 1976 depois da morte do ditador espanhol Francisco Franco (governou o país entre 1939 e 1975) e com o ressurgir da democracia em Espanha, tempos conturbados em que os autocolantes eram um instrumento de propaganda política.
«Desde pequeno que gostava de coleccionar tudo mas o meu sonho era poder fazer uma colecção que mais ninguém tivesse, algo único», explicou, em entrevista à Agência Lusa.
Esta vontade e o interesse pela política fizeram com que Vicente Riego se interessasse por autocolantes políticos, que considera serem um testemunho de uma época.
Era nas ruas, nos comícios ilegais e mais tarde nas sedes dos partidos em contacto com dirigentes e militantes que Vicente Riego conseguia adquirir os autocolantes.
Hoje é na Internet que procura mais exemplares para a sua colecção, com mais de 100 mil exemplares e que não pára de crescer.
Nunca mais esqueceu o dia em que à socapa tirou de um poste de electricidade um autocolante em que se convocava um comício na Plaza Oriente, em Madrid após a morte de Franco, em Novembro de 1975.
«Este foi o autocolante que deu início à minha colecção», contou.
Vicente Riego adiantou que actualmente possui mais de 100 mil autocolantes de cariz político diferentes, sobretudo de Espanha, Portugal, Estados Unidos e América Latina.
Da sua extensa colecção fazem parte mais de 30 mil autocolantes políticos portugueses que vão desde a ditadura de Salazar até à actualidade.
O casamento com uma portuguesa, as viagens ao país e a amizade com alguns políticos facilitaram o acesso aos autocolantes políticos portugueses.
«Comprei algumas colecções em Portugal e fui conseguindo também alguns autocolantes através de amigos», afirmou o advogado, reivindicando ter actualmente a melhor colecção de autocolantes políticos que existe, totalmente classificada com datas e acontecimentos.
«Não existe nada assim nem mesmo em Portugal», garantiu.
Da colecção de autocolantes portugueses, Vicente Riego destaca alguns raros relativos ao 25 de Abril, à campanha eleitoral do general Humberto Delgado (1958), da Mocidade Portuguesa (organização juvenil do Estado Novo), e da União Nacional (partido único do regime, nascido em 1933/34).
Há quatro anos, o advogado espanhol decidiu que a sua colecção deveria ser partilhada com o mundo e colocou parte dos seus autocolantes no site , onde estão disponíveis cerca de cinco mil exemplares.
«Considero que uma colecção deste género não é um artigo pessoal, deve ser partilhada com todas as pessoas», frisou.
No entender de Vicente Riego, esta colecção é muito importante e de grande interesse para o público em geral, novas gerações e antigos lutadores.
«As pessoas têm de saber que a democracia, a liberdade não chegou de qualquer maneira, foi uma luta longa que custou a vida a muita gente», disse o advogado.
Sobre o futuro, Vicente Riego adianta que vai continuar «por muitos e muitos anos a coleccionar autocolantes políticos».
À semelhança de Vicente Riego, também o português Jorge Silva se apaixonou pelo coleccionismo e por autocolantes políticos.
O escriturário de 46 anos não sabe o número exacto de autocolantes que possui, mas diz serem centenas referentes ao período 1974/1978.
«Em Abril de 1974 tinha 12 anos e nesse altura coleccionava tudo desde selos a bilhetes de cinema», contou Jorge Silva em entrevista à agência Lusa.
Seriam as cores, o design e o formato dos autocolantes políticos da época que o levariam a iniciar uma colecção de que desistiria em 1978 por «se terem tornado muito comerciais».
«Adquiria os autocolantes nas ruas, nos comícios e nas festas, quando tinha oportunidade», disse Jorge Silva.
Após esse período, a vida tomou outro rumo e «a colecção ficaria esquecida no sótão».
«Trinta anos depois fui recuperar a colecção, esse pequeno testemunho da vida política da altura, e pensei que era uma pena estarem guardados», revelou.
«Quando entrei no mundo dos blogues, achei que tinha chegado o momento de partilhar com as pessoas os autocolantes que possuía», referiu.
«A jóia da coroa é um autocolante de 1976 da APU cujo símbolo inicial escolhido era igual ao do Movimento Democrático de Libertação de Portugal e que seria cortado para que o símbolo ficasse imperceptível», contou Jorge Silva.
Da colecção fazem parte autocolantes produzidos por partidos, sindicatos, associações de estudantes, desenhos da prisão de Álvaro Cunhal, murais pintados, entre outros.
Jorge Silva diz que não sabe ao certo o número de autocolantes que possui mas assegura que são milhares, sendo que apenas divulgou uma parte no seu blogue tocolante.blogspot.com.
O blogue não tem patrocínios nem cariz partidário, salientando que pretende apenas ser uma «espécie de museu de autocolantes sobre uma época determinante no país».
Na opinião de Jorge Silva, muitas das pessoas que visitam o blogue e que lá deixam comentários fazem-no por revivalismo.
«As pessoas que viveram intensamente aquele período visitam o blogue e contam as suas histórias de vida. É como que uma espécie de álbum de família», disse.

Diário Digital / Lusa

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