Estudo afirma que obesidade pode ser contagiosa e levanta polêmica nos EUA

A obesidade pode se espalhar entre pessoas quase como um vírus, afirmou nesta quarta-feira um grupo de pesquisadores, sendo alguns da Harvard Medical School e da Universidade da California em San Diego, segundo o jornal "The New York Times".

O simples fato de ter um amigo obeso aumenta em 57% a chance de alguém apresentar obesidade, segundo a pesquisa. No entanto, quando um vizinho ou amigo ganha ou perde peso, não há o mesmo efeito "dominó". Já parentes influenciam menos na balança de alguém que os amigos.

A proximidade também não importa: a influência do amigo permanece mesmo se ele está a quilômetros de distância. E a maior influência de todas é quando a pessoa é amiga próxima do obeso.

O mesmo efeito, por outro lado, ocorre para a perda de peso. No entanto, a maioria das pessoas disse estar ganhando peso, e não perdendo. O resultado do trabalho aponta para um epidemia de obesidade.

No estudo, em média, uma pessoa que engordou sete quilos, tem um amigo que engordou mais de dois.

A pesquisa foi baseada em dados coletados pelo acompanhamento federal para estudar doenças do coração em uma cidade chamada Framingham, no Estado americano de Massachussets. Os dados armazenados acompanharam parte da população local por 32 anos, com registros de amigos e redes de relacionamento.

A pesquisa

Nicholas Christakis, um físico e professor de sociologia da medicina na Harvard Medical School, coordenou o projeto. Ele afirmou que uma explicação para o fenômeno é a de que amigos afetam a percepção dos outros sobre gordura.

"Você muda a idéia de o que é aceitável no formato de um corpo ao olhar as pessoas ao seu redor", disse Christakis.

Os pesquisadores afirmaram que o estudo pode explicar a razão pela qual os americanos aumentaram de pesos nos últimos anos --cada pessoa que se tornou obesa teria "puxado" alguns amigos com ela.

A análise do grupo é única, segundo Christakis, porque examinou todo a rede de relacionamentos de cada pessoa.

No entanto, os pesquisadores afirmam que a rede de relacionamentos não é o único fator que altera o peso de um indivíduo. A herança genética também joga um papel fundamental neste equilíbrio.

A ciência mostra que os indivíduos têm faixas de peso determinadas, mas esta "receita" de formato é muito influenciada pelo ambiente da pessoa --que irá determinar o tamanho "mínimo" ou máximo" programado para o indivíduo.

Preconceito?

Se a nova pesquisa está correta, uma possível interpretação é a de que uma maneira de evitar a obesidade é evitar tecer amizade com obesos.

"Você não quer perder um amigo que ficou obeso. Então porque não ficar amigo de uma pessoa magra e deixar que ela influencie você e seu amigo obeso?", disse Christakis.

Ele e James Fowler, professor de ciência política da Universidade da Califórnia em San Diego, disseram que a intenção do estudo não é limitar o universo social dos obesos.

A resposta de Christakis não satisfaz a pesquisadora Kelly Brownell, diretora do Rudd Center para Política Alimentar e Obesidade da Universidade Yale.

"Eu acho que há um grande risco de culpar os obesos por coisas causados por um terrível ambiente", disse Kelly.

"É uma maneira sutil e sofisticada de deixar aspectos do ambiente que são normalmente considerados", disse Rudolph Leibel, que pesquisa obesidade na Universidade Columbia.